Sistemas Agroflorestais e o Sequestro de Carbono

Sistemas Agroflorestais e o Sequestro de Carbono

Diante da degradação e desmatamento de milhões de hectares de áreas florestais no Brasil, uma alternativa de restauração e regeneração dessas florestas tem ganhado cada vez mais adeptos: o Sistema Agroflorestal (SAF). As experiências com agrofloresta no Brasil podem ser acompanhadas no relatório divulgado pelo Instituto Inrternacional pela Sustentabilidade. A partir de iniciativas da Embrapa, de 2016 a 2019, a área com sistemas agroflorestais mais que dobrou entre pequenos produtores do norte do Mato Grosso, passando de 706 para 1,7 mil hectares, por exemplo. 

Além da recuperação dos ecossistemas florestais brasileiros, as medidas de regeneração são cruciais para frear o impacto desastroso das mudanças climáticas, capturar carbono e proteger a nossa biodiversidade. Não à toa o Sistema Agroflorestal tem ganhado importância nesse processo. 

Afinal, o que é o Sistema Agroflorestal?

O Sistema Agroflorestal ou Agrofloresta corresponde a um conjunto de técnicas simples e eficazes, reproduzido pelos povos originários do planeta há milhares de anos, que reúne agricultura, preservação e regeneração. Além disso, incrementa a sustentabilidade, produtividade e rentabilidade dos pequenos produtores. O maior exemplar de agrofloresta do mundo é a Floresta Amazônica, uma agrofloresta indígena. 

A base do sistema agroflorestal é a diversidade biológica, e ele pode ser implantado em menores ou maiores espaços. É um sistema produtivo que se baseia na sucessão ecológica com culturas anuais, árvores perenes e frutíferas, leguminosas e também criação de animais. As espécies se consorciam gerando sucessivamente sombra, matéria orgânica, adubando o solo e, ao longo do tempo, criando a oportunidade de cultivar novas espécies, além de preservar a biodiversidade. Dessa maneira, uma grande variedade ecológica pode ser cultivada simultaneamente, o que aumenta a rentabilidade e colabora com a redução de danos do efeito estufa.

Regeneração de solo: O caso de Ernst Götsch

Em Piraí do Norte, região do cacau na Bahia/Brasil, o agricultor e pesquisador suíço Ernst Götsch implementou um sistema agroflorestal emblemático nos anos 80. O agricultor chegou na terra de mais de 500 hectares em estado desértico, a região havia sido totalmente desmatada e pouco restava de fauna e flora. Antes de sua chegada, havia uma monocultura de mandioca e criação de porco, e os riachos da região haviam secado.

Com as técnicas da agrofloresta, o local foi inteiramente reflorestado, e hoje é uma reserva ambiental com plantação de todo tipo de alimento e produção de cacau para venda, que é importado para Portugal. Com as técnicas do sistema agroflorestal, ele recuperou todos os riachos assoreados.

Götsch já rodou o Brasil dando cursos, e suas aulas já chegaram a mais de 10 mil pessoas. Duas dicas de cultivo passadas pelo mestre:

  1. Podar intensamente as plantas, o que melhora a qualidade do solo, regula a entrada de luz e acelera o desenvolvimento do sistema;
  2. Não cultivar somente as espécies nativas do local onde se implanta a agrofloresta, pois nem sempre isso é possível. As plantas conseguem criar novos ecossistemas e conviver com diferentes espécies perfeitamente quando bem cultivadas. 

Vantagens dos Sistemas Agroflorestais

As vantagens dos SAF são diversas, como mencionado. As agroflorestas melhoram a qualidade do solo e da água e conservam a biodiversidade. Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o plantio em sistemas agroflorestais é uma das medidas mais eficazes para a adaptação climática, que torna as propriedades rurais mais resilientes e resistentes a pragas, secas e inundações. Esse mesmo relatório, lançado pelo IPCC em 2019, destaca como os SAF têm a capacidade de manter o equilíbrio ecológico e ajudar na restauração de terras sob condições climáticas mutáveis.

Além das vantagens ambientais, a agrofloresta é economicamente vantajosa para núcleos familiares de agricultores com pequena e média dimensão. Com a diversidade de espécies, a renda é garantida durante os diferentes períodos do ano, promovendo a diversificação de renda. Por fim, as árvores podem ser vistas como um investimento a longo prazo para os pequenos agricultores, uma espécie de aposentadoria.

Sistemas Agroflorestais e o Sequestro de Carbono

As crescentes emissões e o desequilíbrio nas concentrações atmosféricas de gases poluentes são consequências diretas do uso de combustíveis fósseis, do desmatamento e das atividades agropecuárias. Essas práticas têm desequilibrado os ecossistemas, o que contribui para a aceleração das mudanças climáticas.

Práticas sustentáveis de manejo agroecológico têm ganhado destaque, uma vez que seus sistemas de cultivo acumulam um alto teor de matéria orgânica no solo e isso resulta em um aumento do conteúdo de carbono nele fixado. Isso não apenas ajuda na retenção de umidade e na redução da erosão, mas também fornece macro e micronutrientes para as plantas, ao mesmo tempo em que diminui a quantidade de CO₂ liberada na atmosfera.

Além dos gases do efeito estufa se fixarem em maior quantidade em solos saudáveis, as árvores têm um grande potencial de sequestro de carbono, e esse é o conjunto que a agrofloresta proporciona. Pesquisas recentes no Brasil demonstram que espécies cultivadas sobre o sistema agroflorestal apresentam maior teor de carbono no solo na projeção da copa e maior estoque de carbono orgânico no solo do que no manejo convencional. Isso se dá justamente pela quantidade de matéria orgânica produzida no sistema agroflorestal. Um estudo conduzido pela Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) revelou que os sistemas agroflorestais no Semiárido brasileiro podem aumentar o estoque de carbono no solo em 30,9% em comparação com a vegetação natural.

Além do SAF, os estudos também revelam que as matas nativas são excelentes alternativas de cultivo sustentável para sequestro de carbono. Por isso, o potencial de sequestro é maior quando os sistemas agroflorestais são mais complexos e implementados a partir de matas nativas.

A quantidade de gases do efeito estufa capturados pelos sistemas agroflorestais também aumenta conforme o tempo de implementação e varia de espécie para espécie e de acordo com as densidades dos arranjos florestais. Assim como sugerido por Götsch, no caso da captura de carbono o manejo do sistema através de podas constantes é essencial para a captura de gases no solo.

Compenso Carbono

Incentivar o cultivo sustentável é incentivar o desenvolvimento sustentável: manutenção dos recursos naturais, proteção da biodiversidade, mínimo impacto ambiental, retorno econômico, produtividade e mínimo impacto na saúde dos pequenos produtores agrícolas. Com o investimento em sistemas agroflorestais, além de todas essas vantagens também mitigamos os efeitos do aquecimento global.

Por todos os motivos elencados, a Terraw Embalagens faz a compensação das suas emissões de carbono investindo em agroflorestas. Através do serviço da Agroforestry Carbon, realizamos o plantio de árvores em sistemas agroflorestais de pequenos agricultores, e conseguimos rastrear e mensurar o nosso impacto ambiental positivo. Desde novembro de 2023, já compensamos 8 toneladas de CO2, plantamos 56 árvores de Juçara e impactamos uma família de pequenos produtores do Sítio Nascente do Arvoredo, em São Pedro de Alcântara - SC.


escrito por Helena Vargas Cabeda

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