É (quase) impossível reciclar o plástico.

É (quase) impossível reciclar o plástico.

O plástico, inseparável de nossa vida cotidiana, enfrenta um dilema aparentemente insolúvel quando o assunto é reciclagem. Neste artigo, exploramos as complexidades por trás da produção, os tipos de plástico e os impactos ambientais resultantes de sua utilização inadequada.

Desvendando a Complexidade dos Plásticos

A diversidade dos plásticos é notável, com mais de 300 tipos, sendo cerca de 60 amplamente populares. Entre eles, polietileno (PE), polipropileno (PP), cloreto de polivinila (PVC) e poliestireno (PS) se destacam como os mais comuns (Yuan, 2009). No cenário global, essa variedade desempenha um papel crucial na indústria, no entando, os Plásticos de Uso Único (SUPs), como PP e PE, assumem uma posição dominante, alcançando a impressionante marca de 50% da produção total em 2018 (PlasticOceans, 2020). Esta informação destaca a prevalência desses plásticos descartáveis, ressaltando a urgência em encontrar soluções sustentáveis para lidar com seu impacto ambiental.

Foto: Jas Min, Hamilton, Ontario, Kanada

A complexidade não para por aí. Os plásticos podem ser divididos em dois grupos com base em suas características de fusão ou derretimento: Termoplásticos, que podem ser reciclados, e termorrígidos, que não podem ser reciclados devido à falta de derretimento quando aquecidos.

Os Termoplásticos, como o próprio nome sugere, possuem a capacidade de serem reprocessados várias vezes. Ao serem aquecidos, amolecem e podem ser remoldados, tornando-os ideais para reciclagem. Exemplos comuns incluem os SUPs, como embalagens, sacolas de supermercado, garrafas PET e, também, frascos de produtos de limpeza e higiene. Compreender essa distinção é fundamental para delinearmos estratégias eficazes de reciclagem e promovermos a conscientização sobre o ciclo de vida desses materiais, contribuindo para um futuro mais sustentável.

Foto: Kevin Lehtla

Mas se as embalagens são termoplásticos, porque é um problema usá-las?

Aproximadamente 85% das embalagens plásticas globalmente acabam em aterros sanitários. Nos Estados Unidos, o principal contribuinte para a poluição plástica, apenas 5% das 50 milhões de toneladas de resíduos plásticos residenciais foram recicladas, conforme apontado pela Greenpeace. Já no Brasil a produção média de novos plásticos é de 11,3 milhões de toneladas todos os anos. Porém apenas 1.3% é reciclado.

Foto: Catherine Sheila

Vamos entender através de exemplos práticos e recentes: As festas de final de ano no Rio de Janeiro/RJ e Porto Alegre/RS.

Na operação pós-festividade, tanto no Rio de Janeiro quanto em Porto Alegre, as cidades enfrentaram desafios significativos no gerenciamento de resíduos. O Rio de Janeiro, representado pela Comlurb, mobilizou uma operação massiva, recolhendo uma quantidade impressionante de 969 toneladas de resíduos, com destaque para as 484 toneladas na Praia de Copacabana. Em Porto Alegre, o DMLU enfrentou uma realidade semelhante: com apenas 14 contêineres disponíveis na Orla do Guaíba, a cidade recolheu 25 toneladas de resíduos, principalmente embalagens, porém apenas 2 toneladas estava em condições de serem reciclado. As outras 23 toneladas foram para lixões e aterros sanitários.

“Reciclar não é o problema, mas sim, os plásticos”

ressalta Lisa Ramsden, diretora da campanha do Greenpeace contra os plásticos.

 

Entenda os principais motivos pelos quais todo esse plástico não é reciclado.

No que se refere à economia mundial, resina plástica pós-consumo, obtida através da reciclagem, enfrenta dificuldades devido à preferência pelo plástico virgem mais econômico. O preço do plástico virgem, vinculado aos preços da gasolina e gás, é afetado pelas flutuações, enquanto os combustíveis fósseis são frequentemente subsidiados, portanto quanto mais utilizamos o petróleo como um recurso, mais distante se torna a viabilidade financeira do plástico reciclado. Sander Defruyt sugere que a remoção gradual desses subsídios poderia tornar o plástico reciclado mais competitivo.

No Brasil, diversos obstáculos impedem a popularização da reciclagem. Isso inclui a falta de compreensão da população sobre o processo de reciclagem, a escassez de serviços de coleta seletiva em todo o país, os desafios para alcançar viabilidade econômica, a ausência de infraestrutura adequada para coleta e triagem, a escassez de profissionais qualificados e a não implementação efetiva da logística reversa.

Agora quando falamos do material, temos mais um agravante na problemática. Embalagens leves e multicamadas, amplamente utilizadas, enfrentam baixas taxas de reciclagem. A presença de multicamadas, especialmente com películas, encarece a separação de materiais recicláveis, tornando o processo menos eficiente. Embalagens frequentemente "supercontaminadas" com restos de alimentos também são mais difíceis de reciclar. Em ambos os casos o destino final acaba sendo aterros e lixões.

Foto: Brian Yurasits

Reciclar não é uma solução viável para plásticos.

Antes de pensar como tornar a reciclagem de plásticos uma opção, precisamos olhar para o impacto de tudo que foi produzido e ainda será produzido desse material. Segundo a OECD, desde 1980 menos de 10% do plástico produzido no mundo foi reciclado.

Se a reciclagem fosse uma opção para o plástico, esses quase 90% do plástico produzido já teriam voltado para o ciclo de produção. Porém isso não acontece e dificilmente acontecerá nos próximos anos, pois o caminho para tornar a reciclagem acessível e viável é longo e desafiador.

O plástico é um material muito útil para diferentes setores da indústria. Porém outros tantos é usado de forma inadequada. Um grande exemplo é o setor de embalagens para comida, tanto para deliveries e take-aways, quanto para eventos. Como exposto nos exemplos anteriores, muitas toneladas de plástico de uso único poderiam ser evitadas.

Então, como fazemos para diminuir a poluição plástica?

1. Optar por materiais que tenham maior índice de reciclagem, são eles:

- Latas de alumínio, com 98,7% de reaproveitamento;

- Papel, com 66,9% de índice de reciclagem;

- Latas de aço, com 47,1% de reaproveitamento do material;

- Embalagens longa vida, como as de leite, com 35,9%;

- Vidro, com 25,8% de reaproveitamento;

Pensando nisso, a empresa Unilever planeja reduzir em 50% o uso de plástico virgem e substituir 100 mil toneladas de resinas de uso único por plástico reciclado até 2025. Por outro lado, a Ambev tem a intenção de eliminar totalmente a poluição causada por suas embalagens plásticas até 2025, visando a eliminação deo uso desnecessário desse material através de embalagens retornáveis e feitas com materiais com maior índice de reciclagem.

2. Substituir por materiais compostáveis.

As embalagens feitas de plantas da Terraw são uma ótima alternativa para a substituição de embalagens plásticas para alimentos.

O fato de serem formadas por materiais naturais torna as embalagens 100% biodegradáveis e compostáveis. Isso faz com que você possa compostar sua embalagem usando uma composteira doméstica ou industrial, sem se preocupar com a logística reversa. E se for descartado no lixo orgânico, não causará o mesmo impacto ambiental como o plástico, que demoraria centenas de anos para se decompor em um aterro sanitário.

Ao encararmos a realidade da reciclagem de plásticos, confrontamos desafios significativos. A diversidade desse material, aliada à sua presença generalizada em nosso cotidiano, torna a busca por soluções sustentáveis uma tarefa complexa. No entanto, a conscientização e ações colaborativas entre empresas, governos e consumidores ao redor do mundo são fundamentais.

A missão é clara: reduzir o impacto ambiental, promovendo a gestão responsável de resíduos e oferecendo inovações que minimizem o desperdício. A trajetória para um futuro mais sustentável demanda esforços contínuos e abertos à evolução. Estamos comprometidos em explorar as fronteiras do que é inovador e sustentável, sempre buscando proporcionar as melhores opções para o meio ambiente.

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1 comentário

Parabéns pela matéria, muito atual!
Repensar como usar o plástico. Essa é a questão!
Reciclar é possível se as pessoas, governos e empresas quiserem!

Paulo Lemos

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